quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Testemunho de uma mãe


Existe e continuará a existir uma grande necessidade de compreender o mundo das crianças com autismo. Como mãe de uma criança autista de 13 anos continuo a tentar compreender o seu mundo e ainda estou longe de o conhecer o suficiente mas gostaria de partilhar algumas coisas que compreendi ao longo destes anos.
O papel de mãe de um autista não é só ensinar/educar mas também APRENDER. Somos tanto educadores como estudantes, o modo como o meu filho compreende o que lhe transmito fez-me aprender o modo como posso transmiti-lo. Temos mundos diferentes mas o objectivo é aprender a ultrapassar as barreiras da comunicação. Sem comunicação não há aprendizagem!
Somos uma equipa. Todos. Pais, professores, educadores, familiares, amigos, etc. E como em todas as equipas o sucesso depende do trabalho de todos. Sem excepção. O que o meu filho aprende com o professor é tão importante como aquilo que aprende com o irmão ou com os primos.
Os autistas têm um modo diferente de pensar. É sabido, mas para os “normais” pensar é tão natural que nem nos apercebemos que os outros o possam fazer de modo diferente. Este modo diferente de pensar afecta a sua aprendizagem e devemos ensiná-lo de modo a respeitar aquilo que ele é: uma criança autista.
O comportamento de um autista é também uma forma de comunicação. Ninguém gosta das reacções ao comportamento negativo, portanto como pais, temos a obrigação de ver mais além e compreender a sua origem antes de reagirmos. Tantas vezes traduzem-se como sintoma de desconforto, não saber comunicar as suas necessidades ou não compreender o que esperam de dele.
O meu filho é uma criança. Olho para ele e vejo uma criança; não problemas, nem sintomas nem um ser humano com deficits. Tem a sua personalidade, o seu modo se pensar, ideias, sonhos e medos.
As crianças com autismo gostam de rotinas, hábitos repetitivos e têm dificuldade em sair da “zona de conforto” do seu mundo. Como mãe tenho o papel de o incentivar a descobrir novas coisas, a interagir com um mundo que lhe é esmagador e o amedronta. Só assim ele aprenderá a ter confiança em si próprio e ganhará interesse pelo que o rodeia.
Conhecem o provérbio chinês: “Não me dês peixe, ensina-me a pescar”? Pois é mesmo isso. Temos a tendência de proteger os filhos e fazer-lhes tudo, quer sejam autistas ou não. Tento ensinar o meu filho a ser capaz de tomar conta de si próprio e a interagir com as pessoas e o mundo em geral. Só assim ele será um adulto independente dentro do possível!
Finalmente e mais importante: Nunca tento fazer do meu filho uma pessoa normal. Ele não o é e agradece que o respeitem como tal! Adoro o modo como ele faz que não ouve o que lhe dizem sabendo que no fundo não lhe escapou nada! Adoro levá-lo a um novo local que parece não lhe dizer nada e contudo nunca mais se esquece do caminho para chegar lá.
É difícil ser mãe de um autista, dizem-me. Não, não é. É mais difícil fazer compreender aos outros como eles são e como funcionam. E depois o amor não tem nome, nacionalidade, filiação ou deficiência. É incondicional seja de um filho normal ou de um autista, sou uma felizarda pois tenho dos dois!


Mãe do Pedro

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